(Surripiei esta imagem desconhecendo o autor. Sorry.)
No dia em que o carro não saiu da garagem e voltei a andar de transportes públicos – de Metro no caso, coisa rara – apercebi-me como é fácil esquecermos o mundo que acontece lá fora (mesmo lendo as Crónicas do Autocarro do Jorge, que a malta não acredita nada que aquilo seja verdade porque é ele tão bom escritor e tal que nunca nos passa pela cabeça que aquelas cenas não sejam ficção pura e dura e, claro, “Uma mentira mil vezes repetida”…). É certo que em reportagem vemos de tudo mas é com outros olhos, os olhos da águia, e nem vale a pena, a este propósito, desenvolver o assunto.
Com a ajuda do estagiário Rui faço-me à aventura - que eu
sou uma rapariga muito desembaraçada mas só em circunstâncias particulares –
quero dizer, verifico as zonas, carrego e valido o “Andante” , cumprindo todas essas
tarefas de extrema complexidade.
A meio da minha viagem, aí por volta da estação das Sete
Bicas, eis que a agitação se instala: ouvem-se gritos de “ai o miúdo” e, por
momentos, dá a ideia que alguém ficou preso na porta da carruagem. Depois
percebe-se que não. Neste preciso instante há um miúdo que se solta da
supervisão do vigilante e corre aflito ao longo da plataforma. Cá dentro a mãe
guna e as duas amigas mais gunas que ela desatam aos gritos em direção à cabine
do motorista, “para isto”, “ai não para, tem que parar…”, “ó, ó, pare já isto
que o miúdo ficou lá fora, cara*`&”. Claro que não possível parar o Metro
por dá cá aquela palha. Claro que o miúdo ficou lá fora, pois se a zelosa mãe
guna entrou para a carruagem sem ligar puto ao puto e se não fosse o segurança a
agarrá-lo até se podia ser magoado ou coisa assim. Esta é a opinião do rapaz
brasileiro que esteve muito calado até o incidente acontecer. Eu concordo com tudo.
Isso e a senhora que afiança que “ela não estava a ligar nenhuma ao miúdo”.
Também concordo. De repente, está quebrado o silêncio das sextas-feiras tristes
de regresso a casa - que não é para todos que as sextas-feiras são sinónimo de
passageira felicidade - e toda a gente tem algo a dizer.
As gunas já tinham saído e entrado no Metro que circulava em
sentido contrário. Tudo em menos de 5 minutos. “Teve sorte que não foi no
Brasil, que nunca mais o via”, diz o rapaz brasileiro numa gorada manobra de
autoconvencimento. “É verdade, eu amo o meu país mas é verdade”, acrescenta
enquanto pensa que segunda-feira tem que estar na obra às sete da manhã.
O puto, por esta hora, está a apanhar uns tabefes, tipo “não
sabias entrar com nós, cara*&$#”?! Para a próxima ficas em casa.