Escutando o sorriso dos pássaros

segunda-feira, julho 22, 2013

O Meu Avô



Hoje era dia do meu avô. O meu avô herói operário tipógrafo, cujo nome não consta dos livros de história (para ser exata aparece nas listas de presos da P.I.D.E no livro “Tribunais Políticos”, coordenado por António Rosas). O meu avô que ia levar-me à escola primária, que me bateu  na mão direita e disse “vamos para casa”, um dia à porta da secundária, quando me apanhou a fumar. O meu avô comunista que nunca foi militante de nada nem de ninguém. O meu avô benfiquista que ajudou a construir, com as próprias mãos, o primeiro Estádio da Luz e com quem fui à bola, pela primeira vez aos 11 anos, e daí em diante sempre, fim-de-semana-sim-fim-de-semana-não, até que um dia ele se fartou de multidões e dos podres do futebol moderno ou até que um dia eu fui obrigada a deixar a minha terra e a mudar-me para outra (por gente que se calhar até vai aparecer nos livros de estórias porque afinal os seus pais e avós já apareciam). O meu avô com quem era suposto ter estado na noite em que a avó nos deixou de repente, e que troquei por uma noite no Bairro Alto. O avô com quem almocei quase todos os dias, mesmo depois de já ter começado a trabalhar. O avô que me ensinou quase tudo sem dizer nada e que não acompanhei no fim. Faz-me falta, o meu avô. O avô a que metade do mundo por nós conhecido também chamava avô e que neste dia juntava velhos e novos amigos à volta da mesa e agora já cá não está.  


1 comentário:

bettips disse...

Olá, olá!
Os nossos queridos. Sem letra de jornal. Muito queridos.
(voltaste com a tua prosa ondeante e bela!)
Abç


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